quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

As tentações do homem quando começa a amar



"Aparência Humana?! Essa é a primeira tentação dos homens, a tentação do "dar-se-sem-se-dar", brincar ao amor sem se comprometer. Tocar sem se deixar afetar, sem perder as suas seguranças. Amar é deixar que a carga do outro passe para nós. Uma espécie de transferência. Quando amamos tornamo-nos frágeis. Então achamos mais fácil guardar sempre uma certa distância cada vez que amamos, de modo a nunca corrermos o risco de sermos afetados."

Esta é precisamente a segunda tentação dos homens que se esforçam por seguir o bem. A tentação do" fazer-coisas-em-vez-de-estar". Pensam que o amor se pode trocar por fazer coisas, não entendem que consiste sobretudo em estar presente. Dizem uns aos outros: "Dei-te uma hora do meu tempo, vês como te amo?" ou: "Canto os cânticos da tua cultura, vês como te amo?", ou: "Visto-me como tu te vestes e sorrio quando tu passas, vês como te amo?" Mas o amor não consiste em horas, nem em cânticos, nem em roupas, nem em sorrisos, nem em nada que se possa fazer por fora. O amor consiste em dar-se a si mesmo e para isso é preciso ter tempo para estar com o outro, ter tempo para simplesmente estar."

"A terceira tentação dos homens no que diz respeito ao amor, é a de "dar-a-mão-sem-se-baixar". Pensar que se pode amar sem se baixar, sem ficar a perder. E então dizem coisas como: "Amo-te mas não digas a ninguém. A minha imagem ficaria estragada." Ou: "Deixa-me fazer-te o bem mas não me obrigues a ir a tua casa, não me sinto bem nesse tipo de bairros." Mas amar é aceitar chegar a perder para que o outro fique a ganhar. Amar é quebrar a linha que nos mantém sempre por cima na nossa autossuficiência."

"É esta a quarta tentação: dar-para-se-preencher. É verdade que todo o amor enriquece quem o dá. Mas é também verdade que amar é querer o bem do outro e não o nosso. Sem isto não há amor. Como sabem, os homens têm toda a espécie de carências, sobretudo afetivas. Quando por vezes fogem de as enfrentar procuram uma pessoa para tapar os seus buracos. E chamam-lhe amor. Dizem coisas estranhas como 'preciso de ti para ser feliz', 'sem ti não seria ninguém' e 'não posso viver sem ti'. Ainda não entenderam nada. O amor é como uma ponte e cada pilar tem de estar bem assente por si próprio na sua própria margem. Buscar o apoio do pilar na própria ponte é meio caminho para tudo se desmoronar. O amor é gratuito. Só pode amar quem aceita viver a sua própria solidão e sabe que não precisa do outro para sobreviver. A solidão não é o contrário do amor - como os homens muitas vezes pensam -, é o alicerce escondido."

"é esta a quinta tentação dos homens quando amam, a tentação do "vender-se-para-agradar". Os homens, para agradar àqueles que dizem amar, são capazes de empenhar o que têm de mais sagrado. Vendem os seus ideais, comportam-se como se não fossem eles, tornam-se incapazes de dizer o que realmente pensam, relativizam aquilo em que realmente acreditam para não perderem o outro."


"é esta a sexta tentação dos homens quando começam a amar, a tentação de "manipular-o-outro-para-não-o-perder", de seduzir o outro de forma que ele não possa recusar o amor. Há tantas formas de o fazer, e algumas tão discretas! Há quem tente tornar-se imprescindível ao outro para que o outro não possa viver sem ele. Há quem tente confundir o outro de modo a que ele se convença de que já não é ninguém sem esse amor. Há até quem ameace com o perigo do castigo eterno no caso de ele recusar o amor. Mas cada um tem de descobrir por si só a cor dos lírios e amá- los livremente por aquilo que são. Se todos fossem obrigados a gostar de lírios, os lírios deixariam de ter encanto."

P.e Nuno Tovar de Lemos

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